quinta-feira, 16 de abril de 2009

Um Mestre Quase Esquecido.

Indubitavelmente a fonte mais poderosa de renda na região do Cariri é a FÉ e conseqüentemente, o seu desenvolvimento é visível.

Já fomos grandes com o algodão e com a cana-de-açúcar. Hoje, também somos grandes nos calçados.

A renda de Juazeiro está sempre em crescimento, porem a educação, que com tantas faculdades parece está crescendo...

As escolas têm poucos alunos e os poucos que têm não são incentivados a permanecer em sala. Muitos vão pela merenda escolar, que aparentemente anda escassa na maioria das entidades estudantis.

Temos políticos que dizem fazer muito por nossa região, mas na verdade reclamam dos que conseguem chegar ao poder e os que já estão no poder se perdem em seus enlaces políticos que os deixam de mãos atadas.

Você já visitou uma das sessões na Câmara dos Vereadores? Não? Então você está perdendo uma grande comédia. O que se ouve lá são as solicitações de condolências à família de pessoas falecidas nas datas anteriores a sessão; homenagem e solicitação para colocar nome de ruas de pessoas que você não sabe nem quem é e o que fez. Alem dessas baboseiras existe, em raros momentos, uma menção de que a rua lá no bairro tal está precisando de uma reforma e um ou outro concorda em assinar. Mas quando se vê essa rua tal sendo reformada? Na verdade cai no esquecimento. Quando o vereador que citou é cobrado ele indica a ata do dia mostrando que ele já fez a solicitação e agora depende do prefeito.

Uma das grandes preocupações do Padre Cícero, quando veio para o vilarejo que hoje é Juazeiro, foi cuidar para que a educação local fosse a melhor possível para a época. Ele mesmo dava aula na única escola local, uma vez por semana.

Aqui ele conheceu um garoto que sempre mostrou grande interesse em obter conhecimentos e educação e quando o Seminário do Crato reabriu suas portas em 1877, ele mesmo levou o garoto e o matriculou sem custo algum para o garoto.

Padre Cícero morreu incentivando a abertura de novas escolas e entidades que oferecesse a educação. Em seu testamento ele deixa posses para os Salesianos com a condição deles (os Salesianos) abrirem suas instituições de ensinos aqui no Juazeiro.

Cada novo cidadão que chegava a Juazeiro e que demonstrava conhecimentos e aptidão para ensino era logo interrogado pelo padre vendo a possibilidade de instruir alguma matéria nas escolas locais ou dos sítios.

Nessa época só deixavam as escolas quem já sabia ler e escrever. E isso fazia valer por grandes mestres da época.

Para se ter uma idéia de personalidades que fizeram historia com a educação iniciada em Juazeiro do Norte e incentivada pelo padre Cícero podemos citar:

*Maria Gonçalves que foi a cofundadora e diretora da Escola Normal de Limoeiro do Norte e até hoje é lembrada pela sua dedicação e competência;
*Amália Xavier de Oliveira que foi a cofundadora (juntamente com Doroteu Sobreira) e diretora da Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte (a escola foi fundada no dia 13 de junho de 1934);
*Antonio Xavier de Oliveira (esse que hoje se fala em fechar o Ginásio que leva seu nome e que foi inaugurado no dia 31 de janeiro de 1970 e sua primeira diretora foi Assunção Gonçalves) se formou na Guanabara e se fez famoso como grande jornalista e livre-docente de medicina na Universidade Federal, além de escritor;
*Izabel da Luz, que morou com o padre Cícero, teve que mudar constantemente de local por tão crescente procura de novas alunas;
Teve também a beata Cotinha, a qual não me recordo de nada para citar, mas que também teve seus méritos na educação local;
*José Marrocos, foi professor e jornalista, primo do padre Cícero e fundou o primeiro jornal “O Rebate” em Juazeiro no ano de 1909, alem de escolas em Juazeiro, Crato e Barbalha e morreu em 1910.

Não posso deixar de citar; Raimundo Siebra que também tem o mesmo mérito; Generosa Moreira, Dr. Juvêncio Santana (primeiro Juiz de Direito de Juazeiro) e Antonio Santana, Domingos Tavares, Candinha de Quixeramobim, Assunção Gonçalves, Carolina Sobreira, Mestre Guilherme e Pedro Correia.

Sabe quem entra também nesse rol? O Monsenhor Murilo de Sá Barreto que foi professor na Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte.

Na verdade o padre Cícero em seu testamento deixou claro que deixaria seus bens aos padres Salesianos com a condição “de que ela funde aqui, no Juazeiro os seus colégios de educação para crianças de ambos os sexos”. Mais adiante ele continua: “E rogo a esses bons e verdadeiros servos de Deus, os padres salesianos que me façam esta grande caridade, instituindo nesta terra uma obra completa”. Ele ainda declarou textualmente que do fiel cumprimento dessa sua ultima vontade “será a maior tranqüilidade para minha alma na outra vida”.

Notou que o mestre Pelusio não foi citado ainda? Foi sim. Lembra daquele garoto que o padre Cícero matriculou no seminário? Ele era este garoto que o padre apresentou ao seminário.

Pelusio Correia de Macedo (foto) não se tornou padre. Casou e teve nove filhos. Quatro deles seguiu o sacerdócio. Você conhece a praça Padre Cícero, no centro de Juazeiro? É de se notar que no centro dela tem a conhecida TORRE DO RELÓGIO. Aquele relógio que marca as horas em vários países e as fases da lua foi feito por esse homem chamado Pelusio. Há duvidas se o primeiro cinema de Juazeiro foi realmente o do mestre, o Cine Iracema, mas com certeza foi o muito conhecido na época. A primeira oficina mecânica de Juazeiro também foi dele. Os relógios da matriz de Campos Sales, Missão Velha, do Santuário Diocesano e de outras cidades também foram feitas pelas mãos do mestre Pelusio. Ele também foi quem compôs o primeiro hino de Juazeiro, chamado Hino da Independência e era instrumental. Foi chamado assim por que foi lançado na época da independência de Juazeiro em 1909. O primeiro telegrafista de Juazeiro também foi ele mesmo. Fundou a primeira escola de música de Juazeiro, criou e regeu a primeira banda. Ele era quem fundia muitos sinos de igrejas da nossa região e de outras cidades por ai afora. Era grande inventor e sabia fazer funcionar qualquer peça mecânica defeituosa que chegasse em suas mãos.
Hoje o mestre tem rua com seu nome e tem até mesmo uma escola, estadual, próximo a linha férrea no loteamento Santo Antonio no bairro do Salesianos.

Certa vez cheguei a perguntar a três professores dessa escola quem foi Pelusio Correia de Macedo e, para meu espanto, não souberam quem tinha sido o referido homem. Ao alunos que também perguntei, somente um, soube que ele “tinha sido pai de um padre” e mesmo assim não soube que padre era esse.

Já fiz essa pergunta a dezenas de pessoas que nasceram e vivem em Juazeiro e a resposta é quase sempre, na maioria das vezes, que não sabem e nem tem idéia de quem pode ter sido.

Mas porque eu estou indignado por ninguém conhecer um homem como o mestre Pelusio? Passe pela rua Jose Marrocos e pergunte quem foi aquele que tem o nome da rua em que mora. Vá a rua Dr. Floro Bartolomeu e faça o mesmo. As respostas são engraçadas. Na Jose Marrocos são poucos que sabem quem foi o mesmo e ainda citam como amigo do Padre Cícero. O mesmo acontece com Dr. Floro.

Você sabe quem é Virgulino Ferreira? E Corisco?
Com certeza sabe até a data de nascimento e morte deles.

Estou lastimando que um homem com tamanha importância para a construção de Juazeiro seja esquecido pelos juazeirenses. Estou lastimando que ao invés de falarem e perpetuarem a memória de um homem com essa importância, dêem mais atenção a um facínora na marca de Lampião ou Corisco.

Sei que os mesmos estão registrados na historia e realmente há necessidade de serem citados nas aulas e em palestras, mas não cultuados como GRANDES homens da historia.

CARPE DIEM QUAM MINIMUM CREDULA POSTERO

5 comentários:

  1. ACHEI A MATERIA MUITO INTERESSANTE. VOCE ESCREVE MUITO BEM. NAO SABIA QUE ESSE HOMEM EXISTIU, AGORA ESTOU INTERESSADO EM SABER MAIS SOBRE ELE.

    ANDRE LUIZ
    CRATO

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Daniel, eu sou neto de Mestre Pelusio. Por algumas viagens fui em busca dos 21 relógios que construiu. Petrolina, Picos, Missão Velha e etc. Só não encontrei um. Um dia que voltar ao Juazeiro, a cidade mais inteligente do Ceará, vou lhe procurar para lhe dar um abraço. Luiz Carlos

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  4. André Luiz

    Sequizer saber mais sobre meu avô, escreva um Email para meu irmão, Luiz Carlos de Macedo, cujo endereço da esposa é :

    Saudações
    Paulo Macedo

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  5. Sou bisneta do mestre Pelúsio e fiquei muito feliz em ver este post.
    Sou filha de Martha, que é filha de Moacir (Cícero Moacir), um dos filhos de Mestre Pelúsio e Dna antonia)
    Parabéns por resgatar a importância deste grandioso homem que foi meu bisavô.
    Tenho fotos e alguns escritos dele.

    Cynthia

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