terça-feira, 14 de abril de 2009

Semana Santa: a Serra, o Padim e o Santo Sepulcro.

O tempo estava ameaçando uma chuva muito forte. Impiedosa. Eram sete horas da manha quando inicie minha jornada. Uma “peregrinação” onde meus olhos tentariam ficar atentos a cenas inusitadas ou simplesmente fantásticas. Vou começar pela ponte do rio Salgado, ou simplesmente, ponte do rio Salgadinho.

Logo assim que você passa pela ponte começa a ver as Estações da Via Sacra. São 14 Estações e mais a Santa Ceia (que é bem maior que as demais). A ordem é essa ai das fotos.


É na subida do Horto que inicia as imagens da realidade de um povo. Alguns nascem nessa cidade e outros migram para essa região. Os pedintes são comuns e não adianta fechar os olhos, porque quando você não os nota, eles te chamam e clamam por um centavo que seja.

Uma grande atração na subida é a “pedra do joelho” que fica logo depois de uma curva grande que tem. Uma enorme fila se forma a cada minuto para que se possa colocar o joelho e o dedo na pedra e assim uma senhora possa rezar o bendito e pedir curas e milagres. O interessante é uma caixinha que tem sobre a pedra. Ela é para uma ajuda financeira na “rezadeira”. Fica presa a cadeira da mesma por uma corrente e um cadeado.


Ao chegar na estatua do Padre Cícero me deparei com uma multidão tentando subir até aquela colossal imagem do padre para escrever seu nome, passar entre o padre e a bengala, rezar diante do padre, olhar a maravilhosa vista do Cariri cearense. Muitos desistiam antes mesmo de tentar.

Dentro do Museu Vivo não se podia nem respirar direito. Não havia organização na fila e os poucos funcionários temiam negar qualquer solicitação feita por um visitante daquele lugar. As estátuas das personagens que ali você encontra em tamanho real passam a não ter muito sentido, pois os guias se cansam logo de explicar para aquela turma e logo entra outra que não sabe o que esta acontecendo. Como disse: faltou organização.

Quando cheguei entre a estátua do Padre Cícero e a igreja que esta sendo construída, me deparei com essa cena maravilhosa e interessante. Um senhor ajoelhado diante de uma cruz e por trás da mesma, uma senhora, já bem velhinha, com um cajado (duas vezes o seu tamanho) rezando o "bendito" no fiel. Ela parecia se esconder. Mas não era isso.

Na nova e inacabada igreja estava havendo uma missa. Confesso não ter visto nem um padre naquele local, mas assim mesmo tinha cânticos e rezas. Havia muita lama ali, mas mesmo assim ninguém se retirava por esse motivo. Impressionante o projeto dessa igreja.

Quando resolvi ir para o Santo Sepulcro, decidi que seria pelo caminho mais conhecido, que passa pelo resto do muro que ali está há quase um século. Retornei da igreja e fui seguindo a nova caminhada.

No caminho do Santo Sepulcro você encontra algumas casinhas de taipa e outras de alvenaria, mal acabadas e pequenas. Todas elas com a finalidade de vender algo. Encontrei umas que vendia "quentinha". O cardápio? Baião de dois, farofa, sardinha ou peixe pescado nas vizinhanças e suco "com água de pote". Encontrei vendedores de caldo-de-cana e água de côco. Eu ainda lembro quando ainda ofereciam também aqueles roletes de cana enfiado na própria casca. Era muito gostoso.

Para fazer a visita ao Santo Sepulcro você tem que ter muita disposição e muita fé também, mas seja qual for o artifício que usou para conseguir chegar, vale a pena. Encontrei até um ciclista nessa empreitada, mas acho que ele não agüentou pedalar e preferiu empurrar a bicicleta. Ou seria por que havia muitas pessoas? Cada segundo é uma grande descoberta e cada maravilha vale cada espinho pisado, cada pedra tropeçada, cada galho no rosto e cada lama jogada em sua roupa.

Veja a imagem abaixo. O que você está vendo é o “Abrigo dos Beatos”. Dos poucos que vi, uns três, só um tinha alguém sentado. Quem estava interessado em ir ou vir não estava querendo sentar e descansar. Ou queria chegar logo ou voltar logo.

Quando você descobre que chegou ao Santo Sepulcro? Quando começa a ver um monte de cruzes fincadas junto a um monte de pedras de todos os tamanhos. Existem cruzes sobre rochas do tamanho de uma casa.

Se você presta bem atenção nestas duas primeiras fotos abaixo, verá que tem um tumulo em forma de caixão e lá no alto da pedra, mais uma "gruta". Na segunda foto, outro ângulo, você vê uma menor. "Gruta" são pequenas casinhas feitas sobre as rochas. No Santo Sepulcro você encontra dezenas, alem de muitas cruzes. Algo super interessante é que parece muito com um cemitério judeu. Tem sempre muitas pedras pequenas sobre outras pedras maiores... Colocadas por quem visita o local. Segundo um Rabi que conheci em São Paulo, ele disse que esse costume pode ter vindo dos tempos bíblicos quando os túmulos eram feitos de pedra, e quando um familiar visitava, sempre colocava mais uma pedra para preservar o tumulo, pois sempre havia vândalos que retiravam pedras e com essa atitude de repor as pedras eles mostravam que o túmulo era sempre visitado e não abandonado.




O Marco do Padre Cícero é algo muito interessante e as historias que se ouve sobre o mesmo são muito mais. Esses escritos na pedra, dizem, foram feitos pelo padre Cícero. Qual ferramenta ele usou? Ora, ele usou o próprio dedo. Só isso. Todos passam os dedos nas letras escritas nas rochas. Não lembro qual o significado dessa superstição.

As “pedras do pecado” são rochas enormes com aberturas que cabe certos tipos físicos. Elas tem esse nome porque dizem que quem não consegue passar entre elas é que os pecados estão demais. Já vi gordinhos se recusarem, mas não por que tinham pecado muito, mas porque duvidaram dessa crença. Vi uma senhora que passou de um lado a outro e quando saiu soltou aquele grande sorriso de felicidade. Quem consegue passar fica limpo da maioria dos pecados. Eu não tentei e nem tento. Me dá preguiça só de ver o esforço que eu iria fazer.

Esta foto (do fogo) foi registrada na Capela Senhora Santana, no meio do Santo Sepulcro, localizado a seis quilômetros da estatua do Padre Cícero, na serra do Horto. O fogo é comum se vê porque a maioria dos penitentes coloca velas muito próximas uma das outras e assim acontece essa queima. Dessa capelinha é que se consegue ver o padre de costas e a nova igreja do Horto.
Em todo o Santo Sepulcro se encontra muitas cruzes e “grutas”. Capelas, sepulcros e muitas pedras. Pedras e mais pedras. Entre duas pedras foi construída essa “gruta” e colocada lá dentro uma pequena grade e a imagem do Menino Jesus.

Encontrei grandes amigos. Encontrei pessoas especiais. Encontrei conhecidos. Encontrei uma felicidade enorme. Encontrei lembranças de quando era bem mais jovem e fazia essa jornada. Encontrei uma saudade indescritível de momentos já passados antes com amigos de infância e adolescência.

Aqui, essa aventura eu terminei as 14h00 (em ponto) na praça do Memorial Padre Cícero, em frente a Igreja de São Vicente. Meu trajeto deve ter sido de uns 14 quilômetros andando, sem parar e sem sentar. Comi um milho, uma cajá, tomei um litro e meio de água, tomei um copinho de café (com gosto de barro) e tomei muita chuva.
Hoje é terça e ainda sinto essa aventura em meus pés, em forma de dor.

CARPE DIEM QUAM MINIMUM CREDULA POSTERO

5 comentários:

  1. Dan,você sabe que minha fé é outra,mas fico impressionada com o povo brasileiro,capaz dos maiores sacrifícios esperando que um milagre aconteça.Amei sua matéria,vi e revi cada foto.
    Parabens,você é um ótimo fotógrafo.
    Ah!e os pés já parou de doer?
    Delma Maria.Guarulhos.São Paulo

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  2. Oi Daniel!!
    Parabéns pelo post, pelas fotos e pelo excelente humor!!! Estou completamente encantada com vc e seu blog!!!
    Também sou de Juazeiro e também tenho um blog... muito simples (simples demais!!... não sei escrever tão bem! rsss). Estou começando agora a conhecer esse "mundão virtual" e te descobri só agora!
    Parabéns novamente e fica com Deus!!
    Xêross
    Raquel

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  3. frandeadmalária e familia malária. valew...27 de abril de 2009 às 20:19

    pode crê daniel vc mandou v!
    adorei o seu trabalho, no festival armazem do som bandas de garagem, no sesc!
    sim, e quero tudo q vc tem!
    obg por tudo, por ter mostrado o nosso trabalho e de todas as bandas do festival!
    abração valew...

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  4. gostei muito destas fotos pois me lembrei
    bastante do tempo que morei ai nesta cidade
    que mora no meu coração sou nascido no juazeiro
    do norte estou em são paulo.
    obrigado por propocionar esse
    momento

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  5. Muito bom esse blog.

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